JAQUELYNE BALSANI

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Ana Flor e o urso Tindo

Ana Flor era uma menina muito triste. Não conhecia seus pais. Ela vivia em um orfanato. Diziam para ela que seus pais era usuários de drogas, e com apenas 3 meses de vida, fora abandonada na porta do orfanato.
Ana era pequena e gordinha, tinha os cabelos avermelhados, e tinha uma pele super branca. Por estas características, Ana era perseguida por seus coleguinhas dentro do orfanato, tinha vários apelidos, como "cabeça de fogo", "Leite azedo", " Melancia" etc... Todos de mau gosto.

O maior problema era sua exclusão, ela dormia no fundo do quarto, e quando a "tia" ia contar história para as crianças, ela não se reunia junto com os outros, ficava lá no fundo, tentando escutar algumas palavra da mulher. Tinha muito medo de chegar perto deles, e buscar ao menos uma aproximação, uma amizade, nada a deixava feliz.
Aos seu 8 anos de vida, pensava na vida, mesmo sendo tão inexperiente, e não conseguia contar algo que lhe fizesse sorrir.
Do casarão, ela apenas simpatizava com a velha senhora entregadora de leite, que todas as manhãs via entrar pela cozinha quando ia beber um copo de água na madrugada. Ela achava as roupas da senhora muito engraçada, ela usava um vestido grande colorido, um chale de crochê azul, e um turbante preto. Ela não via gente com esse tipo de roupa normalmente.
Ana um dia tomou coragem de ir falar com a senhora, mas para isso ela teria que sair mais cedo do quarto, não poderia dormir, se não perderia a hora. Ela pensava, não tinha nada o que perder, só queria conversar com quem gostava, ou apenas dizer um oi.
Depois que a tia contou a história, todos se deitaram, e Ana também. Durante a noite ela ficava sonhando, imaginando a vida fora dali, com liberdade, amor, carinho, família, dinheiro ... nada disso la possuía. Cuidadosamente ela se levantou, foi até o corredor, e acendeu uma vela, para não chamar a atenção, e olhou a hora, eram quase 5 horas da manhã, então decidiu descer até a cozinha, esperar a hora da velhinha chegar.
Sentindo aquela felicidade tremenda pela primeira vez, se sentiu livre, pronta para sair dali.
Enquanto olhava o aquário com os peixinhos, escutou o barulho do portão. Ficou nervosa, mas resolveu ainda assim ir em frente.
A senhora entrou pelos fundos, abriu a porta, e quando ia colocando as garrafas na prateleira Ana apareceu:
- A senhora precisa de ajuda?
Na hora a senhora tomou um susto, e assim respondeu:
- Não, não minha linda, já já termino e vou embora, pode ir se deitar, ainda está muito cedo.
- Que bom que a senhora está bem, mas não vá agora, nem estou com sono.
- Ah, mas é hora de criança estar na cama, o que está fazendo uma hora dessas de pé?
- Queria ver a senhora entrar
- Bom, terminei, vou indo... | Neste momento foi interrompida...
- Não por favor, fica mais um pouco, eu queria perguntar uma coisa pra senhora
E olhando nos olhos da criança a senhora disse:
- O que foi meu amor?
- Como é a vida lá fora?
Neste momento a senhora se espantou, e viu a criança olhando pra fora na janela, olhando o nascer do sol, com os olhos brilhantes, como se fosse a coisa mais linda e importante no mundo, com uma dor no coração, disse:
- Mas você nunca saiu lá fora?
- Não, eu queria poder passear, mas não posso... | Neste momento começou a chorar, e continuou enxugando as lágrimas| - Mas qual é teu nome?
A senhora mal podia falar, ela estava pasma, e não pensava que as crianças do orfanato eram tão infelizes. E então respondeu Ana:
- Meu nome é Alice, e o seu querida?
- Ana Flor
- Que nome lindo
- Obrigada, é a primeira vez que me elogiam
- Como assim, a primeira vez?
- Sim, ninguém gosta de mim aqui, eu queria ir embora e ter uma família
Alice estava com muita pena de Ana, ela via nos olhos da criança, muita tristeza, não o brilho de um olhar nos olhos de uma criança normal. E disse:
- Olha meu bem, um dia você terá tudo que sempre sonhou, desejo tudo de melhor pra você, mas agora tenho que ir. Olhe, amanhã trarei um presente para você. Se puder estar aqui de manhã, lhe entregarei.
- Tá bom, vou esperar a senhora bem aqui.
Então ela deu um beijo muito sincero no rosto de Alice, e esta saiu e foi embora.
Muito feliz que havia encontrado alguém especial, ela voltou com um largo sorriso para o quarto, para se deitar antes que alguém a visse de pé.
Dormiu, e na hora do sinal, levantou normalmente, e teve um dia como os outros, mas uma coisa em especial,      se lembrando da velhinha a todo momento.
Foi a primeira a terminar de jantar, e foi logo se deitar, para que pudesse levantar novamente cedo para ver Alice, que havia lhe prometido um presente.
Acordou no meio da noite, e de tanta ansiedade, não conseguiu mais dormir, e decidiu esperar pelas cinco horas novamente. Levantou-se, foi para a cozinha, e ficou sentada na cadeira. Sem que percebesse, pegou no sono, e debrussada na mesa, ali ficou.
Acordou com um barulho, assustada, olhou na janela, e lá Alice já estava indo embora. Triste que havia perdido a conversa, voltando para o quarto, viu um pacote sobre a mesa, ligando os fatos, feliz gritou:
- Êba! Meu presente!
Nesse instante logo se calou para não acordar ninguém, e foi abrindo o presente, que estava em um papel muito bonito, cheio de brilho de estrelas e muitas flores.
Quando abriu viu um ursinho de pelúcia muito lindo, ele era pequeno, marrom, e uma gravatinha vermelha que encantou Ana Flor, ela abraçou-o bem forte, e foi para o quarto.
Chegou, sentou-se na cama, e fez um pedido à Deus.
- Meu papai do céu, sei que o senhor é o Maior dos maiores, Rei dos reis, Pai dos pais, e que tem o poder absoluto sobre nós, estou muito feliz com meu presente, ele é tão fofinho, eu amo ele. Eu queria que as pessoas fossem assim, fofinhas, que me deixasse feliz, como estou agora. Queria muito uma família, um amigo, queria não mais morar aqui, ninguém gosta de mim, eu sou sozinha. Espero que o senhor tenha escutado meu pedido, e que se tiver tempo pra mim, o realize! Amém! Te amo!
Dormiu, e quando acordou no outro dia, foi sob o chamado da chefa do orfanato, pedindo para que fosse à sua sala. Na hora ela ficou um pouco apreensiva, pois nunca havia sido chamada para ir até lá. Mas teve que ir; foi.
Chegando lá, viu um casal sentado na mesa, e ao passar por eles, a olharam de um jeito diferente. Logo a chefa à disse:
- Ana Flor, esses são seus novos pais!
Sorriram para ela, e ela espantada, mas com um leve sorriso em seus lábios.
- Você ficará mais cinco dias aqui, e depois terá a sua casa.
Comemorando e conversando com ela, o clima estava muito bom, e ela super feliz, que Deus havia realizado seu pedido. Voltou toda alegre para o quarto, e quando chegou lá, o ursinho estava maior, e já não era mais marrom, era vermelho. Ela ficou meio perdida, estranhada, e pensou: - Vou colocar um nome nele! Tindo! ... e disse:
- Tindo, por que você está assim? diferente?
Pegou sua escova de cabelo, e o penteou. Guardou-o escondido, para que ninguém o pegasse, e o estragasse, ele era tudo para ela.
Passou os cinco dias, e ela acordou feliz, e arrumou sua mochilinha. Colocou Tindo, e foi para a sala esperar por seus novos pais. Ansiosa para que chegasse logo a hora, percebeu que a mochila estava apertada, então abriu,  Tindo já não era mais vermelho, agora era roxo, e maior, estranhou de novo. Assustou-se desta vez. Mas ficou ali, explodindo-se de felicidade.
Logo vieram a chefa e seus pais, com um sorriso muito bonito para ela, pegaram em sua mão, ela deu tchau para as tias e a chefa, e foi embora.
Durante o caminho, conversavam com ela, e estava achando maravilhoso, poder chamar alguém de mamãe, e alguém de papai, pararam no meio do caminho, e foram tomar sorvete, conversaram mais, e depois foram para casa.
Quando estava chegando, viu um jardim muito lindo,e muitos animais, era uma chácara, muito bem organizada, e cheia de cor, de vida, tudo diferente do que ela estava acostumada. A chamaram para que fosse ver seu quarto, quando abriu a porta;
- Uau!, que lindo o meu quarto mamãe!
Sônia, sua nova mãe, ficou muito feliz com a atitude de Ana, e lhe deu um abraço bem forte, e um beijo e lhe disse bem baixinho no ouvido:
- Tudo pra você meu anjo!
Ela começou a vasculhar tudo, havia roupas no guarda roupa, que desta vez era só dela, tinha uma cama bem grande e macia, um baú cheio de brinquedos, uma casa de boneca muito linda, uma televisão, um banheiro só pra ela. A cor das paredes eram coloridas, cheias de brilho. Havia uma prateleira com muitos livros de histórias, e um aparelho de som, para que pudesse ouvir suas músicas, e dançar no tapete redondo de usinho todo fofinho com várias almofadas. E o que Ana mais amou, a varanda, com uma linda vista para o jardim da chácara.
Já sozinha no quarto, quando foi se trocar, para posteriormente sair com seus pais, escutou um barulho vindo de sua mochila. Quando foi olhar, ela havia rasgado, de tão cheia. Quando percebeu, Tindo era muito lindo, muito maior do que quanto o recebeu, e azul anil brilhante. Encantada desta vez, e não entendo nada, ela o colocou em cima da cama. E saiu!
Quando voltou, e abriu a porta do quarto, havia um grande manto da cor de Tindo, e brilhante, sobre a cama, e do lado dele. Muito assustada agora, faliu alto:
- O que é isso?
E Tindo respodeu:
- Isto é você
Não conseguindo se mecher, o espanto tomava conta dela e falou tremendo:
- Você fala?... Desde quando você fala?
- Você que me deu este poder, pediste a Deus a felicidade, um amigo, uma família, uma outra casa, uma pessoa fofinha, e Deus lhe deu, quanto mais feliz você é, mais você realiza teus desejos. Quando você confiou Nele, e lhe entregou seus sonhos, ele te mostrou como a vida só depende de você, da sua coragem, da sua fé...
Ela não entendeu mais nada, mas mesmo assim, ouvia as palavras de Tindo com muito gosto, com olhos arregalados e boca aberta, mas confiava em tudo.
O tempo foi passando, e ela mantia Tindo escondido, mas sempre batia altos papos com ele. Ela era muito feliz com a vida, e já nem lembrava mais da sua vida no orfanato.
Dez anos depois de ser adotada, já com seus 18 anos, Ana Flor tinha um irmão, que sua mãe conseguiu engravidar, e ela era muito feliz com tudo que tinha. Seu pai, sua mãe e seu irmão.
Ela havia se tornado uma moça muito bela, e Tindo havia sumido à dois anos. Ela chorou muito a perca de seu urso companheiro, sentia saudade, e também não sabia como aconteceu sua perda. Ela era muito admirada pelas pessoas, mas mesmo com tanta gente ao teu redor, ela não se achava completa, faltada Tindo  em sua vida.
Andando pela rua, encontrou aquela doce velhinha de dez anos atrás, Alice; que havia lhe dado Tindo. A chamou, e Alice a reconheceu.
Depois de uma conversa muito amiga e profunda, Ana tocou no assunto de Tindo, e havia contado o que aconteceu com ele.
Alice então completou:
- Normal que isso tenha acontecido
- Por quê? Como assim normal?
- Eu lhe dei aquele urso, mas na verdade ele não era um urso, ele era a sua felicidade. Quando você precisou dele, estava ali do seu lado. Só era fantasiado de urso, por que você era uma criança. Quando precisar dele novamente, ele irá aparecer pra você, mas ninguém sabe, a forma que assumirá.
Ana Flor ficou pensativa, e Alice lhe deu um beijo e saiu e foi embora.
Ana sentia muita falta de Tindo, ele havia sido sua salvação. O apoio, o ombro amigo e fofinho que ela pediu tanto à Deus.
Ana Flor agora era mulher, era livre, feliz, vivia com uma família de classe média alta. Tinha tudo o que queria. Mas seu anseios haviam mudado, eram outros. E ela já triste novamente, não conseguia prosseguir.
No seu primeiro ano de faculdade, Psicologia, Não estava indo bem nos estudos, estava depressiva, triste demais, não conseguia se concentrar.
Nos horários que não tinha aula, costumava ir à biblioteca da cidade, explorar mais os livros, para tentar melhor mais. E lá sempre havia um estudante muito estranho, ele era muito feio. Tinha cabelos compridos e embaraçados, muitas espinhas na pele, e usava roupas sujas e velhas. Mas mesmo assim ela simpatizava com ele. Sempre se cumprimentavam. Até que um dia, ela não encontrou o livro que estava procurando, e ele como conhecia aquela biblioteca como ninguém, resolver pedir ajuda à ele.
Começaram a ficar amigos. E a cada mês, O rapaz ficava mais bonito, e ela nunca havia lhe perguntado o nome, mas gostava muito dele, já havia até convidado para ir em sua casa conversar, eram grandes amigos.
O tempo foi passando e ela foi se apaixonando por ele. Até que um dia, perguntou-lhe o nome:
- Dinho [ Como o chamava, um apelido], Como é teu nome de verdade?
- Meu nome é estranho, não vai gostar!
- Ah Dinho, fala, prometo que não vou rir!
- Tá bom, tá bom    - Tindo!
Naquele momento ela ficou pasma, e ficou de todas as cores que pode imaginar, o jovem ficou assustado, pensou que ela tinha entrado em estado de choque. Ela se lembrou então de o que Alice havia lhe dito quando a encontrou na rua. Não pensou duas vezes, e deu um beijo bem forte e cheio de amor em Tindo!
Ele não entendeu nada, mas gostou, ela não disse nada à ele, mas começaram a namorar.
Quanto mais amor ele recebia, mas bonito ele ficava.
Resolveram então se casar!, depois do casamento, Ana lhe contou tudo sobre o ursinho Tindo!, ele achou engraçado, e uma coincidência muito grande na vida deles dois.
Eles viveram muito bem seu casamento, tiveram filhos, e Ana nunca mais teve a solidão, pois tinha encontrado a felicidade. Que apartir do momento que encontrou Tindo pela primeira, sentiu o sabor da alegria. E que o destino havia sido mágico, e recompensador para ela.

Moral da História: Quando você é infeliz, e pensa que tudo está perdido, procure um ponto seguro, e coloque sua força sobre ele. Irá conseguir tudo que deseja, e terá o que sempre sonhou ter.

BALSANI, Jaquelyne. Polakasobalsa. 2011

Caso tenha havido algum nome parecido com algo real, foi mera coincidência. Esta é uma história criada sem bases.

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